sábado, 30 de março de 2013

O orfanato parte 2


Sabe aquele medo mortal que corta a espinha? O sentimento de impotência, que nós sentimos ao estar dentro da escuridão? Eu nunca imaginaria que isso poderia acontecer comigo. Eu vivia minha vida como uma pessoa normal. Mas agora eu não sou somente uma pessoa normal. Eu tenho que descobrir o que está acontecendo. Pena que para isso, muitos vão sofrer as consequências.
Revelações 
A mãe do Jonas ficou muito assustada com a reação que tive, depois das revelações que ela me fez. Ela fechou a porta estrondosamente na minha cara. Eu fiquei perplexo com tudo que ouvi, e não liguei para o que a mãe do Jonas fez. Eu, me virei, andei um pouco, olhando para frente sem piscar, como um zumbi, e me sentei nas escadas, de cimento, rachado, da porta da casa do meu amigo.
Passaram-se cerca de vinte minutos. Eu não tinha reação alguma, apesar da minha mente dizer que não aconteceu nada, que o Jonas estava bem. Algo dentro de mim dizia que não, que nada estava bem.
Lembrei-me de uma coisa: Todos os orfanatos, ou empresas, sejam lá, quais forem, tem registros de quem é interno e de quem trabalha lá. Essa era a minha única chance de descobrir o que aconteceu com Jonas, quem são as pessoas que eu vi, e quem realmente é Elaine.
Eu fiquei com muito medo de voltar lá, mas, já que o orfanato estava em ruínas, eu não tinha com o que me preocupar. Levantei-me, peguei minha bicicleta e fui novamente até lá. Durante o caminho, fui pensando, em tudo de ruim que fiz, na minha vida. Fazia tempo, que não pensava nesse tipo de coisa.
Ao chegar me espantei em ver que as viaturas não mais estavam lá, nem se quer seus rastros na areia estava mais lá. A rua estava deserta, muito diferente de ontem. Sem crianças brincando, sem barulho algum. Porém, eu não liguei muito pra isso.
Eu tinha que entrar. Deixei minha bicicleta fora da entrada, e fiquei olhando, analisando o que poderia fazer, até que tive a brilhante ideia de pular o muro. Pulei o muro, subindo pelo portão, de ferro. Suas aberturas, com esculturas, recurvas, de metal, davam um bom suporte, ao encaixe dos meus pés.
Quando terminei de subir, me desequilibrei e caí de costas do outro lado. Mas, não foi nada que pudesse me machucar, muito. Levantei-me, limpei a areia, em minha roupa e olhei para frente. O orfanato, realmente estava destruído. Bem diferente daquele que eu estava trabalhando, no dia anterior, fiquei muito confuso, com isso. Era inacreditável, ver tamanha mudança. Andei entre a grama, e o mato já estava da altura dos meus joelhos. Subi três escadas antes de chegar à porta da entrada.
No momento em que olhei para aquela porta, me lembrei do terror que tinha passado, engoli seco e a abri. Entrei dentro do orfanato devagar, atento a tudo, porém o orfanato era somente um monte de escombros e carvão, fechei a porta devagar e comecei a andar na sua imensa sala.
Ganhei más confianças e andei mais rápido. “Onde ficariam esses registros?” – Eu perguntei, pra mim mesmo. Passei, por toda a sala, subi novamente as escadas. Minha nossa! Que arrepio aquele barulho de ranger, da madeira, me deu.
Mas, eu continuei subindo, vendo o andar de cima se aproximar, conforme avançava. Ao chegar ao primeiro andar, me deparei, com quase tudo queimado, reduzido a cinzas. Os quadros, nas paredes, estavam totalmente destruídos; no piso havia vários buracos, as lindas janelas, que tanto chamaram minha atenção, estavam, totalmente, quebradas.
Eu andei, pelo pequeno corredor, ao lado da escada, até o quadro de são Jorge que eu estava restaurando, e para meu espanto ele ainda estava com as marcas de tinta que eu havia deixado, na hora da restauração. Isso provou para mim mesmo que eu estive ali.
Olhei para o lado oposto do corredor, e dos quartos das crianças. Tinha uma porta lá, escondida. Ela era da cor da parede, parecia estar camuflada, mas, as marcas de carvão, na parede, e a tinta que foi parcialmente consumida pelo fogo, á denunciou. Fui ate lá, rodei a maçaneta, que fez um estalo e empurrei a porta devagar, ouvindo aquele som tenebroso, de portas velhas abrindo.
Atrás da porta havia uma sala, ela estava muito bem iluminada pela luz do sol que atravessava as janelas, ainda intactas e os buracos feitos pelo tempo, nas paredes. A sala era grande, parecia um escritório, com vários livros molhados, que estavam arranjados em uma estante atrás de um birô, grande de madeira maciça, estranhamente conservado.
Eu andei ate lá, com cuidado, pois o chão não estava muito firme. Fui para trás do Birô, que tinha oito gavetas, quatro de cada lado, com uma cadeira de madeira no meio dele. Eu vasculhei todas as gavetas, e a única coisa que encontrei foi material religioso, bíblias, miniaturas de santos, poeira etc. Vasculhei toda a estante, joguei todos os livros no chão, abri os que estavam mais conservados, más nada encontrei. “Acho que se esse registro existiu, ele foi queimado. Não sei o que me deu para vir aqui”. –Eu pensei.
Já estava me retirando quando a parede ao lado da porta, por onde entrei, chamou minha atenção. Havia um quadro pequeno, pregado na parede. O quadro foi pintado de perfil, e era de um ancião, descalço, trajando roupas modestas, em pé de frente a um lago.
Ele parecia triste, olhando para baixo, em vez de contemplar a água verde a sua frente. Em sua mão esquerda, ele segurava uma bengala, de cor preta e na direita, ele segurava alguma coisa, mas, o estado precário da pintura não possibilitava ver o que era.
Parei de olhar para a pintura, e olhei para o quadro, como um todo. Andei ate lá, e notei que, alguma coisa estava afastando-o levemente da parede. Cheguei mais perto dele, e o retirei. Por trás dele, havia um pequeno quadrado de madeira, com uma maçaneta pequena nele e duas dobradiças, fincadas com pregos na, ainda sólida parede.
Eu puxei a maçaneta, e abri o que parecia ser uma "espécie", porém sem chaves, ou cadeados. No seu interior, havia vários papéis, dinheiro antigo e uma pasta de capa dura e cor preta. Peguei tudo que tinha lá e levei ate o birô. Sentei-me no que restava da cadeira e comecei a vasculhar os papéis.
Vários dos papéis continham endereços e números de telefones. Outros tinham anotações estranhas, em alemão. Mas, um deles era em português. O papel continha anotações sobre horários de celebrações ao “Salvador”. Nomes das pessoas que iriam participar. Em meio aos nomes estavam: Elaine e Alice. Junto com os nomes de outras pessoas, que segundo o texto, iriam ser salvas, e purificadas pelas mãos do “Salvador”.
Ignorei estes papéis e fui direto á pasta. Eu a abri, ela estava bastante empoeirada, mas os papéis estavam em excelente estado. Lá continham os nomes e fotos de todas as crianças que haviam ficado no orfanato, cada um envolto em um plástico, da própria pasta.
Na parte interna da capa havia uma espécie de informação adicional. Dizendo: “Os sobrenomes das crianças que não tem pais conhecidos, foram dados pelas freiras do próprio orfanato”.
Deixei essa informação de lado, e fui ao que me interessava. Em uma rápida olhada, percebi que todos os registros eram organizados, da mesma forma.Uma foto, seguida das informações sobre a pessoa. Em outro compartimento da pasta, que estava separado, por um papel duro, colocado para dividir os registros. Havia os contratos dos funcionários, com suas respectivas fotos e cargos. Era justamente o que eu queria.
Comecei pelas crianças, analisei minuciosamente as fotos para ver se encontrava alguma que parecesse com o menino que apareceu em meu quarto, ou com alguma outra coisa que vi. Não sei quanto tempo eu passei procurando, mas, minha vista já estava ficando cansada. Passei mais algumas páginas, ate encontrar um menino bastante parecido, com o que vi. A foto era em preto e branco e me parecia ser bastante antiga.
Ele nasceu em 1894. Era descendente de italianos. Seu nome era Patrizio Auditore. O coitado não tinha pais e foi encontrado quando era bebê na porta de um orfanato, na Itália. O garoto foi adotado, por brasileiros e trazido para o Brasil, porém seus pais adotivos morreram em um acidente e ele foi acolhido pelo orfanato Sta. Helena.
Na foto o menino aparentava ter uns dez, ou treze anos e usava o uniforme do orfanato. Ele era branco, cabelo liso, que escorria sobre sua testa, olhos negros e um rosto de feições, bem ingênuas. Fiquei observando a foto por um tempo, até não ter mais dúvidas.
Era ele mesmo. Estranhei que seu cadastro estivesse marcado com um “X”. Em vermelho, que traçava toda a frente da página, e algumas anotações em alemão atrás do papel de registro. Separei aquela folha, colocando-a do lado da pasta, e continuei olhando.
Durante minha análise dos registros, eu senti um cheiro podre, passando por mim. Olhei para os lados, procurando de onde vinha o cheiro, mas, não encontrei sua fonte. Eu desviei minha atenção disso e continuei olhando os registros. Não precisei vasculhar muito até encontrar um rosto familiar.
Era a foto da menina contorcida que eu havia visto no corredor. Eu tinha certeza que era ela, aquele rosto, era inconfundível. Seu nome era Madeleine Rodrigues. Ela havia nascido em Portugal, e também chegou ao orfanato em 1894, como o menino.
E como no registro anterior, o seu também estava marcado com um “X” em vermelho, porém não tinha anotações, e as informações dela eram poucas, se comparadas com as do outro registro. Na foto, ela devia ter uns vinte anos, cabelos pretos e longos, olhos aparentemente claros. Ela estava sorrindo, na foto, aparentava estar feliz. Separei essa folha, como fiz com as outras
Continuei olhando os registros. Olhei atentamente, os rostos das crianças nas fotos, elas pareciam estar muito felizes. Muitas das fotos estavam em preto e branco, por que eram de muito tempo atrás. No entanto, havia fotos coloridas. A última criança a entrar no orfanato se chamava somente Roberto. Era uma criança, de quatorze anos, ou mais, negro, magro.
Chamou-me a atenção, que na foto, ele não sorria, não parecia estar feliz. Roberto entrou no orfanato em janeiro de 1997, mas, foi adotado em Junho do mesmo ano. Igual a todas as crianças, dos registros que separei.
Todas elas haviam sido adotadas, segundo os papéis, mas, não havia mais nenhuma informação sobre isso. Como o nome das pessoas que adotaram, datas etc. Esse fato era estranho, mas, deixei para lá. Passei mais algumas daquelas folhas amareladas, e me deparei com algo estranho, que despertou minha curiosidade.
Uma das fotos era de duas garotas, gêmeas siamesas. Abaixo da foto delas, dizia que, elas trabalhavam em um circo, com seus pais, porém o circo foi fechado, elas foram abandonadas por eles, e trazidas ainda muito jovens para o orfanato. Seus nomes estavam ilegíveis, devido a algumas manchas escuras no papel.
As gêmeas eram ligadas pelo abdome. Tinham cabelos claros, mas, não pude identificar a cor, devido á foto estar em preto e branco. Elas usavam o mesmo uniforme, dos outros garotos, porém adaptado a elas.
Eu havia terminado de ver os registros das crianças, porém, faltavam os registros dos empregados. Comecei a passar as páginas, prestando muita atenção em seu conteúdo. A primeira pessoa que aparecia nos registros, se chamava: Cláudia Aparecida Da Silva. Mulher de cabelos longos, e escuros. Na imagem de seu registro, não aparentava ter mais de quarenta anos.
Ela usava um habito típico, seu rosto era misterioso e de aparência séria. Ela não sorriu na foto, era como se não gostasse de estar ali. Dei mais uma lida, e encontrei uma informação valiosa. No registro dizia que, Cláudia, foi a segunda madre superiora do orfanato.
Logo eu pensei: “Mas, quem foi a primeira?”. Virei a folha, só por curiosidade, e atrás dela, estava mais um registro. O da primeira Madre Superiora. Ela se chamava Maria Benta de Souza, e assumiu a posição em 1893 quando o orfanato foi fundado, porém, morreu de tuberculose em 1903, exatamente, dez anos depois.
Na imagem, ela aparecia sorrindo, seu cabelo, era visivelmente branco e ela usava as mesmas vestes das outras freiras. A madre Maria, parecia uma dessas velhinhas, que nós vemos nas praças. Baixinha, de cabelos brancos e óculos redondos, grandes, para seu rosto. Ela deveria ter uns sessenta anos, na foto.
Maria tinha uma aparência bem feminina, mesmo sendo uma senhora. Olhos claros, e um semblante feliz. O estranho é que o registro da primeira madre estava colado atrás do da segunda. Isso poderia indicar algum elo, ou parentesco entre elas, mas, não era da minha conta. Separei essa folha e continuei vasculhando até encontrar outro rosto familiar.
Parecia com o rosto da empregada que eu tinha visto na cozinha. No entanto nessa foto, ela ainda tinha rosto. Seu nome era Aurélia Martinez de Andrade. Ela foi brutalmente assassinada, por um dos meninos do orfanato, em 1995, na própria cozinha do orfanato, exatamente, dois anos antes de ele pegar fogo.
No registro não continha os detalhes do assassinato, somente, um trecho dizendo que, a sua garganta havia sido cortada por um… O resto havia sido apagado, com tinta de caneta. Coloquei esse registro junto com os outros, e continuei procurando, passando folha por folha até encontrar o registro de Elaine, duas páginas, depois deste.
O papel estava úmido, o rosto da foto havia sido apagado, mas as informações ainda estavam bem conservadas. Elaine assumiu o orfanato em 1943, logo depois da morte da segunda Madre Superiora. A Madre Cláudia, que morreu vítima de complicações, ainda desconhecidas.
Segundo o registro dela, Elaine era órfã e foi encontrada vagando pelas ruas da cidade, quando tinha apenas dois anos. Ela foi levada para o orfanato e lá cresceu. Depois da morte da Madre Cláudia, Elaine assumiu o orfanato até o dia em que ele ardeu em chamas. Havia uma parte destacada, em vermelho, com um símbolo de cruz, carimbado no papel, em cima de uma parte que dizia: “Elaine foi responsável por trazer muitas crianças de rua para serem cuidadas no orfanato”.
Talvez isso seja um destaque por ela ter acolhido tantas crianças. Continuei, procurando nos registros, porém, já tinha encontrado o que queria. No entanto, eu não estava feliz, tão pouco tranquilo, pois os registros pareciam estar me esperando, eu mal procurei por eles, e já os achei.
Peguei as folhas que havia separado e levantei-me, pronto pra sair dali, mas, quando olhei pela janela do escritório, percebi que já era noite. “O que?”. –Eu gritei. Um barulho de estalar começou. O barulho, vinha do piso de todo o orfanato. Olhei pela porta do escritório, e não pude acreditar no que via. O orfanato estava se refazendo.
A madeira do piso estava rejuvenescendo e ficando exatamente como no dia anterior. O barulho de estalar era feito, pela madeira, enquanto ela restaurava-se. As paredes estavam se transformando, substituindo as machas feitas, pelo fogo, por tinta e verniz.
Nós não acreditamos no sobrenatural, até vermos com nossos próprios olhos, e quando nossos olhos nos mostram o sobrenatural, nosso cérebro o desmente. Mas, meu cérebro acreditava no que eu estava vendo. Fechei meus olhos, com medo… O barulho parou. Eu os abri devagar. “Meu deus!” – Eu falei. O orfanato estava novo, exatamente como antes.
A madeira estava novinha, os livros das prateleiras, pareciam ter sido comprados naquele mesmo dia, janelas, quadros, portas, enfim tudo estava novo. Fiquei quieto, e reparei que o lugar estava silencioso.
O que é uma coisa muito ruim. O medo que sentia me fez deixar as folhas caírem no chão. Eu estava apavorado, mas, não deixei o medo tomar conta de mim. Andei até a porta do escritório devagar, olhando para todos os lados. Abri um pouco a porta e fiquei lá observando, e vasculhando todo o local com meus olhos.
Muitos passos, eu pude ouvir, eles estavam subindo as escadas. Mas, quem? Andei para trás, me agachei, porém, deixei a porta aberta, para ver, quem subia as escadas. As crianças estavam subindo para seus quartos. Exatamente como da outra vez. Elas eram muitas e subiam as dezenas. Fiz silêncio para que elas não me vissem. Todas elas subiram as escadas e entraram nos quartos, rapidamente, como se estivessem fugindo.
Porém uma menina de uns cinco anos, usando roupas de dormir, baixinha, loira e de olhos negros, olhou para trás, direto para mim. “Meu Deus! Será que ela me viu?” – Pensei. A menina abriu a boca e ficou um tempo, com ela aberta.
Fiquei um pouco confuso com a reação dela. Porém, ela passou somente alguns segundos assim. Um grito, ensurdecedor, foi vociferado de sua garganta, o grito parecia ter sido amplificado, correndo todo o orfanato.
As outras crianças saíram de seus quartos e vieram andando, devagar. Todas começaram a gritar, mas, nenhuma se aproximou. Olhei novamente para a escada. Alguém estava vindo. Eu fiquei parado observando. Um padre subiu a, passos largos, as enormes escadas, vestindo uma batina preta, com alguma coisa roxa em volta do pescoço.
Fiquei olhando até que ele terminou de subir as escadas. Olhei mais atentamente, e percebi que a cruz de Jesus cristo, pendurada em seu pescoço, estava de ponta cabeça. Foquei meus olhos no rosto dele.
-É o Padre Bernhard? –Ele era o padre “gringo” da igreja que eu estava restaurando, quando recebi a ligação de Elaine.
–Padre! Sou eu, Paulo. –O padre, abriu seus olhos, quando escutou minha voz.
Seus olhos eram negros como os das crianças. Ele olhou direto para mim, com um semblante de ódio, e permaneceu calado, até que, tentei fechar a porta, com meu pé. Ao ver o que eu estava tentando fazer, ele gritou, como um monstro e partiu em disparada até mim, sendo seguido pelos meninos. Eu me levantei e fechei a porta, rápido.
Dentro do escritório, arrastei todos os móveis que pude arrastar, na tentativa de travar a porta, que recebia golpes brutais, vindos de fora. Após, conseguir travá-la, com um grande vaso que encontrei próximo a estante de livros.
Comecei a procurar um lugar para me esconder, por todo o escritório, já que sabia que a porta não aguentaria muito tempo, e o vaso, era inútil para travá-la. Mas, não encontrei nada. O desespero tomou conta de mim; suor escorria pelo meu rosto e minhas mãos ficaram geladas. Lembrei-me das portas e cofres escondidos, nas paredes.
“Pode ter mais alguma coisa” – Falei a mim, mesmo. Comecei a tateá-las, até que encontrei uma protuberância, na parede, procurei, mais um pouco, até encontrar, um puxador redondo, de metal. Era uma porta. Ela estava ao lado do birô, de frente para as janelas. “Deve ser um banheiro” – Disse aliviado. Abri, entrei pela porta e a fechei. Não era um banheiro, era uma sala pequena, parecia uma dispensa, com várias prateleiras vazias.
Olhei para o lado e notei que a sala, era muito vazia, porém, tinha um baú grande encostado em uma parede. A minha curiosidade foi mais forte que eu. Aproximei-me do baú e o abri. Tomei um grande susto, que me fez andar alguns centímetros, para trás cambaleante, como se estivesse bêbado. Dentro do baú havia um corpo de uma menina, que parecia ter oito anos. Seu corpo estava pútrido, vermes andavam por entre os buracos, feitos por eles mesmos no corpo dela, que não estava sozinha.
Colado ao seu corpo estava metade de outro corpo, de uma menina idêntica a ela. Eram gêmeas siamesas, ligadas pelo tronco. As mesmas meninas, que outrora, eu vi nos registros. “Mas como? Já se passaram várias décadas, e elas ainda estão ai?”
Um cheiro pútrido invadiu minhas narinas como uma faca cortante fatiando a carne. Aproximei-me novamente, tampando minha respiração e fechei o baú. “Eu não posso ficar aqui” – Pensei. Cheguei perto da porta da dispensa e a abri um pouco, para ver o escritório. O escritório estava tranquilo, as batidas na porta continuavam, mas, sem tanta violência.
O baú atrás de mim rangeu, assustando-me. Olhei para trás. As meninas que aparentemente estavam mortas estavam em pé e terminando de sair do baú. Os vermes em seus corpos caiam no chão as dezenas, sangue escorria dos seus olhos cinzentos e pingavam no chão gélido. Uma delas emitiu um som rasgado, agudo, e andou até mim.
Em um instinto de defesa, eu a empurrei para trás, com o meu pé. O impacto do meu tênis no peito da garota abriu um pequeno buraco, no centro do tórax dela. A abertura permitiu que o sangue, misturado com um líquido amarelo escorresse da ferida, me deixando ainda mais enjoado. Aquele cheiro de morte era terrível. Abri a porta, sai da despensa e a fechei.
Continuei um tempo, pressionando a porta, com meu corpo e tampando o meu nariz, para evitar aquele cheiro. As meninas começaram a bater na porta, porém o estado de decomposição de seus músculos era muito avançados, e suas batidas somente faziam barulho, sem grande impacto na madeira.
Notei que a porta que dava entrada para o escritório, estava bastante danificada, pelas batidas, mas, não tinha mais ninguém batendo. Sai de onde estava me aproximei da entrada do escritório e olhei por um buraco do tamanho de um punho, feito na madeira da porta. “Acho que está tudo…” Antes de eu terminar de dizer, um olho cinzento surgiu do outro lado.
Ele olhou direto para mim, me fazendo tomar, um grande susto. Meu coração batia tão forte que chegava a doer. Minhas pernas ficaram bambas, me deixando cair sentado ao chão. E da mesma forma que o olho surgiu na fresta, ele desapareceu. Em seguida, começaram mais batidas contra a porta, porém, dessa vez eram, com uma força muito superior as de antes.
Levantei-me, andei um pouco para trás, olhando para frente, até que a porta não aguentou as fortes pancadas e desmoronou, por cima do vaso que coloquei, fazendo um som estrondoso. Um ser estranho, com aspecto humano, surgiu, quando a porta foi ao chão. Um garoto, de pele cinzenta, cabeça raspada, magro e com ossos sobressalentes. Seu rosto, com enormes feridas, parecia paralisado, com um semblante de tristeza.
Ele aparentava ter uns vinte anos. Segurava em uma das mãos, uma cabeça de um bebê humano, não deu para ver direito, quem era, mas, me parecia ser, o feto que eu houvera visto antes. O garoto olhou para mim, com um olhar faminto. Ele levantou sua mão, e mordeu bem no meio do rosto da cabeça que ele segurava, arrancando a pele do nariz, e da boca, e em seguida, mastigando-a.
Ele soltou a cabeça do bebê ao chão, e começou a andar até mim, ainda mastigando. Percebi que uma de suas pernas havia sofrido uma fratura exposta, e conforme ele andava, sua Tíbia subia, rasgando ainda mais sua carne podre e limitando seus movimentos.
Esperei ele se aproximar mais, e quando ele estava bem perto e ergueu suas mãos, eu corri, passando por ele, e pela porta do escritório. Parei de correr quando cheguei no meio da enorme sala, onde ficavam os quadros.
Eu fiquei olhando para os lados, tentando encontrar um lugar para me esconder. Um barulho chamou minha atenção. Olhei para trás, e vi que as meninas gêmeas, conseguiram abrir a porta da despensa do escritório. Olhei novamente para frente.
O corredor, onde ficavam os quartos dos meninos estavam mais escuros, me deixando com um medo mortal de ir até lá. “Eu não posso descer pelas escadas, eu não sei para onde as crianças foram”. Decidi correr o risco. Iniciei uma corrida desesperada, até o corredor. Enquanto estava correndo, eu percebi que os garotos estavam novamente subindo as escadas, com passos rápidos.
Aumentei a velocidade da minha corrida e entrei na escuridão. Continuei correndo, até que alguma coisa agarrou minha perna, me fazendo cair. Eu não conseguia ver nada, além do preto.
Então fiquei escutando. O som dos passos das meninas e dos garotos, que faziam a madeira ranger, vagarosamente. Fiquei escutando… Um som seco de estalo surgiu bem próximo de mim. Meu coração começou a bater ferozmente, em meu peito. Tentei me acalmar, quando um grito horripilante foi emitido, bem acima de mim, fazendo-me também gritar, mas, de medo. As luzes do corredor piscaram, e ficaram acesas por alguns segundos, revelando, quem estava lá.
Era a garota contorcida que eu havia visto antes. Ela estava acima de mim, apoiando seus braços e pernas, contorcidos no chão, ao meu lado. Seu pescoço quebrado fazia sua cabeça balançar, como um pêndulo. Ela estava coberta de enormes feridas e com o mesmo odor pútrido das gêmeas, que eu havia visto. Comecei a rastejar pelo chão, na tentativa de fugir.
Mas, ela andou mais um pouco e abriu sua boca, fazendo sua saliva podre pingar em cima do meu peito. Rastejei mais rápido. Porém em um dos movimentos que fiz, ela mordeu meu braço.
Gritei de dor, e a empurrei, com minha outra mão, fazendo com que ela se afastasse de mim. Levantei-me, do chão. A luz se apagou novamente, mas, eu não liguei para isso. Comecei a correr, com os braços esticados para frente, até que choquei minhas mãos contra uma parede. Procurei desesperadamente, uma maçaneta, ou alguma coisa que pudesse usar como arma.
A garota já estava chegando perto de mim, eu já até podia ouvir seus passos rápidos, e sentir seu cheiro horroroso, quando consegui abrir uma porta, entrar, e a fechar rápido. Fiquei escorado na porta, para reforçá-la. O quarto estava muito escuro, mas, uma luz fraca de vela o iluminou de repente. A fonte de luz estava atrás de mim. Me virei, para ver quem acendeu a vela.
–Jonas? –Ele se virou.
–Paulo? Onde você estava? A Madre Elaine, me ligou, e eu vim te procurar. Você viu essas coisas ai fora?
–Vi sim, Jonas.
–O que elas são? –Ele me perguntou.
–Eu não sei. Mas, nós temos que sair daqui. –Eu afirmei. -Você está aqui desde quando? –Interroguei.
–Quando eu cheguei, a Madre Elaine, me disse que você estava aqui em cima. Eu subi as escadas, porém, uma coisa começou a me perseguir logo depois de eu terminar de subir. Eu não soube o que era, porque estava com muito medo, mas parecia ser uma espécie de sombra negra, sem traços. No entanto, tinha silhueta humana. Eu corri e entrei nesse quarto. Estou aqui desde então.
–Quer dizer que Elaine está aqui? –Eu perguntei surpreso.
–Sim, ela está. –Ele me respondeu, de forma estranha.
Eu me virei novamente para a porta. Coloquei meu ouvido, bem perto da madeira e fiz silêncio para escutar.
–Vamos esperar as coisas se acalmarem, para nós podermos sair daqui. Combinado?
Jonas não falou nada.
–Jonas? –Eu me virei.
–Combinado amigo. –Ele respondeu.
Sua voz tinha mudado, era como se fosse mais de uma pessoa, falando ao mesmo tempo. Seus olhos estavam cinzentos, como o dos outros e seu nariz sangrava muito.
–Jonas? O que aconteceu com você?
–Nada, meu amigo! –Ele começou a gargalhar. –Eu nunca me senti tão... Puro. –Mais gargalhadas.
Ele veio até mim, com uma rapidez, estupenda e segurou meus dois braços, contra a parede.
-Você vai gostar de se juntar á nós. –Ele disse gargalhando.
Jonas levantou sua cabeça, abriu a boca, e dela começaram a sair vários tentáculos, com auréolas ao redor de cada um deles. Os tentáculos eram grandes, do tamanho de cobras. Eles balançavam tão violentamente, para lá e para cá, que lembravam um enxame de vespas.
Jonas abaixou sua cabeça, virando-a para mim. Os tentáculos ficaram ainda mais ativos, e se movimentavam, com mais violência do que antes. Eu tentei me soltar, mas, não era forte o suficiente.
Ele se aproximou de mim. Os tentáculos começaram a tocar meu rosto, dando-me uma sensação de ardor, na pele, quando, os tentáculos a tocavam. Olhei para o alto da cabeça de Jonas, e vi uma mão surgir. Alguma coisa agarrou o cabelo dele e o puxou para trás. Eu fiquei ainda mais assustado, quando vi, quem tinha feito isso. Era o garoto que eu tinha visto no meu quarto, e em meu sonho, no dia anterior.
O menino usava as mesmas roupas dos outros, e o mesmo uniforme do orfanato. Suas vísceras estavam expostas, passando por baixo da camisa. Ele levantou a mão para mim e eu me virei rápido, para abrir a porta e fugir.
–Ma… Mate-o. –O garoto disse, com uma voz, excessivamente rouca.
Eu me virei novamente para ele.
–Mate-o, antes que ele se levante. –Ele mandou.
–O que? –Eu estava estupefato. –Como…
-Não, há tempo para respostas. Mate-o.
Jonas começou a se levantar, lentamente. Olhei para todos os lados, mas, não havia nada que eu pudesse usar para me defender. Olhei para as paredes, e lá, estava uma cruz, de ferro, pregada na parede ao meu lado. Não pensei duas vezes, andei até lá, e a peguei.
Jonas, já estava sentado, pronto para levantar-se. Os tentáculos em sua boca, ainda estavam se movendo muito rápido. Segurei a cruz, com força e me aproximei dele. Jonas tentou me agarrar, com suas mãos, mas, antes que ele pudesse esboçar alguma reação, eu comecei a golpeá-lo, na cabeça, com a cruz.
Os tentáculos se movimentavam cada vez mais rápido, mas, eu batia, no mesmo ritmo dos seus movimentos. Eu bati, e bati, com tanta força, que a cruz, esfacelou a cabeça dele e ficou fincada, no crânio do Jonas. Os tentáculos pararam de se mover. E ele caiu ao chão.
Fiquei olhando, atento a alguma reação. O corpo dele estava banhado em sangue. Massa encefálica cobria o alto de sua cabeça e a cruz. Seu corpo se moveu, assustando-me, mas, eram somente espasmos. Ele se debatia, enquanto os tentáculos se recolhiam vagarosamente para dentro de sua boca.
–Meu Deus, o que eu fiz? –Sentei-me no chão, chocado.
–Faz tempo que Deus, não está aqui. –O garoto disse.
–Quem é você? –Perguntei.
–Eu me chamo…
–Patrizio Auditore. –Completei. –Eu sei quem você é. O que está acontecendo aqui?
–A fé... Ela transforma pessoas em monstros. Ela faz eles acreditarem, que são melhores do que os que não tem fé. Você é um pecador, Paulo, mas, também é um homem corajoso, por isso eu vou lhe contar á verdade. –Ele olhou firme para mim, com aquele olhar negro, e rosto inexpressivo. –Eu cheguei ao orfanato, em 1894, pouco tempo depois de sua fundação. A Madre Superiora Maria, me acolheu, quando eu era somente um bebê. Esse orfanato era como todos os outros.
Crianças, brincando, estudando e esperando alguém as adotarem. Mas isso mudou no dia em que a Madre Maria morreu. Depois de sua morte, a prestativa, irmã Cláudia, assumiu este orfanato. Cláudia era severa, mas, não demorou muito para descobrirmos o motivo de seu rancor e severidade.
A luxúria impregnada em sua pele, e dominante em sua mente. Um dia uma criança, chegou neste orfanato, junto com a Madre Cláudia, que na ocasião, se afastou daqui, por aproximadamente oito meses, para tratar de problemas de saúde. A Madre Cláudia, nos disse que ela foi encontrada na rua, sozinha e entre nós, ela cresceu.
A ela, foi dado o nome de Elaine. Na época nós não sabíamos, mas, ela era filha da Madre Cláudia. Fruto de seu romance secreto, com um Necromante chamado Bonaval. Este necromante foi o pivô da queda deste orfanato. Ele envenenou a mente da Madre Cláudia, com ideias de liberdade.
A mesma liberdade, privada pelo cristianismo, e pela sua própria fé. Bonaval acreditava, e fez as freiras deste orfanato acreditarem, que a única maneira de salvar este mundo, era libertá-lo de suas verdadeiras correntes: a religião.
E mostrar, quem eram os nossos verdadeiros salvadores: os demônios. Que segundo Bonaval, foram injustamente criminalizados, pelos Cristãos. A Madre Cláudia, juntamente com as outras freiras que acreditavam nos ensinamentos dele, juntaram-se e formaram uma seita secreta, que cultuava o demônio Abigor, a quem elas chamavam de “Salvador”.
Abigor é um dos comandantes dos exércitos de Satanás, a frente de 60 legiões de demônios e um dos mais fortes entre eles. Durante dez dias, a cada dez meses. Crianças deveriam morrer, e suas almas deveriam ser entregues à Abigor. Para, assim ele obter força suficiente, para influenciar neste mundo. Quanto mais almas em seu poder, mais força Abigor teria.
Dessa forma, os assassinatos começaram. Eles eram presididos pela Madre Cláudia, junto com a jovem Elaine, que assistia atentamente a tudo. E era a única de nós, que podia assistir. Os sacrifícios aconteciam às escondidas, e das mais variadas formas. Sempre que um de nós era morto, as freiras nos diziam que ele tinha sido adotado. Dessa forma nenhum de nós, desconfiava. Quando meus amigos começaram a desaparecer, eu logo desconfiei, já que, elas diziam que eles tinham sido adotados.
Porém, raramente eu via pessoas, interessadas em adoção por aqui. Um dia eu segui a Madre Cláudia, pelo corredor do andar de baixo. Sem deixar que ela me visse. O que eu vi naquele dia, ficou e ficará marcado, na minha memória, para sempre.
Ela levou um pequeno menino de seis anos, chamado Henrique, para o seu quarto. Eu cheguei logo depois. A porta estava somente encostada, então eu a abri, um pouco. Quando meus olhos puderam ver o que ela estava fazendo, eu fiquei congelado de medo e de horror.
A Madre Cláudia, estava cortando o Henrique ainda vivo. A boca dele estava tampada com uma toalha, introduzida, até sua garganta. Ele estava despido, e a Madre estava dilacerando suas vísceras, com uma faca de cozinha. Ele notou que eu estava lá e olhou direto, para meus olhos na fresta, como se quisesse pedir ajuda.
A Madre Cláudia notou que Henrique estava olhando para alguém. Ela virou-se, olhou para trás, com aqueles olhos completamente negros, e me viu. Eu corri como nunca havia corrido, sendo perseguido por ela, até que entrei neste quarto, depois de despistá-la. Escondi-me, dentro daquele armário. –Ele apontou, para um velho armário de roupas, próximo a cama. –E por lá fiquei.
A Madre Cláudia, avisou a todas as freiras, sobre o acontecido e mandou que me procurassem. Como cães, atrás de uma caça, elas me procuraram, por todos os lados. A Irmã Alice, entrou neste quarto, que era dela, e me encontrou, quando foi trocar de roupa.
Como castigo, ela me agarrou, tampou minha boca, com uma toalha, introduzida até minha garganta e amarrou-me, com uma corda, que vinha trazendo. Após me amarrar, ela tirou uma faca de dentro da gaveta do guarda roupa, e cortou, profundamente, meu abdômen.
Por fim, Alice, me trancou neste armário, para que eu morresse. Eu aguentei dias, até morrer, de sede, fome e de hemorragia. Depois da minha morte, meu espírito, ficou vagando neste orfanato, junto com os espíritos das outras crianças mortas. Quando a Freira Alice, viu que eu já estava morto, ela rapidamente, cortou meu corpo em pedaços, com a mesma faca, que me feriu, e se desfez dos ossos, enterrando-os na horta. A minha carne, serviu de alimento, para os meus irmãos de orfanato, sem se que eles soubessem.
Durante quarenta anos, a seita da Madre Cláudia, matou crianças, até que na noite do dia 25 de janeiro de 1943. Ela morreu em sua cama. Logo depois da sua morte, sua filha, Elaine, assumiu a posição de Madre Superiora. Elaine continuou os sacrifícios humanos, com a ajuda das freiras, dos empregados do orfanato e do seu mais novo aliado, o padre alemão Bernhard Schlüter, que foi um dos seus aliados, mais fieis durante cinquenta e quatro anos.
–Bernhard Schlüter? –Eu perguntei.
O Padre Bernhard, era um padre Alemão, naturalizado Brasileiro. Ele era alto, magro, branco, muito branco. Seu rosto era robusto, como os dos alemães. Nariz e orelhas grandes, olhar humilde. Bernhard já tinha setenta e cinco anos de idade, e destes setenta e cinco, sessenta, eram somente, de sacerdócio. Bernhard era considerado, um dos padres mais respeitados do estado, e também, era o padre da igreja que eu estava restaurando, quando recebi a ligação de Elaine.
–Sim! Paulo. Durante muito tempo, Bernhard, auxiliou Elaine, como seu ajudante. Usando seu prestígio, ele enganou milhares de famílias, e trouxe seus filhos para cá. Mas, o padre já estava cansado, e profundamente arrependido do que fazia.
Ele achava que as freiras já estavam indo longe demais, porém, elas ignoravam seus avisos e continuavam matando. Em novembro de 1997, durante uma de suas viagens, o padre descobriu a lenda dos quadros de Giovanni Bragolin, através de relatos de seus colegas da igreja. Bernhard queria dar um fim no sofrimento das crianças, e essa era uma forma, de dar fim a tudo isso, de uma vez por todas.
Mesmo não acreditando na lenda, a sua covardia falou mais alto. Ele decidiu comprar e dar um desses quadros de presente às freiras, que o aceitaram sem pestanejar. Alguns dias depois o orfanato pegou fogo, mas, Elaine estava viajando.
Ela estava trabalhando como missionária, e acolhendo mais crianças para o orfanato, quando foi avisada do acidente. Elaine desconfiou na hora que o responsável era o Padre Bernhard, devido ao seu comportamento estranho e desmotivação, aos propósitos dela. Elaine viajou de volta e foi atrás do Padre Bernhard, para matá-lo, mas, em um momento de desespero, ele fez um acordo com ela. Em troca de sua vida, ele jurou que nunca mais se voltaria contra a seita, e que atrairia mais pessoas para a causa de Elaine.
Assim ela poderia dar continuidade ao que sua mãe, havia começado. Elaine aceitou, e durante anos, o padre novamente, foi seu servo fiel, trazendo várias pessoas até Elaine. Inclusive você, Paulo! –Olhei para baixo pensativo. –Como aconteceu com os outros, o mal tomou conta da alma do Padre Bernhard, tornando-o não mais, o padre arrependido de antes, mas sim, um ser dissimulado e cruel. Que se fazia passar, por um humilde homem de Deus. Quando na verdade, era um servo do Diabo.
–Mas, como? Como eu pude entrar, e até trabalhar em um orfanato destruído? –Olhei novamente para o menino.
–Depois que o orfanato pegou fogo, Elaine, fez um pacto com Abigor, para trazê-lo de volta. Abigor, já estava tão forte com as almas que o incêndio, e os sacrifícios lhe deram, o que já conseguia ter uma leve influência, neste mundo, porém, somente neste orfanato, e apenas, uma pessoa, que entrasse a aqui, de livre e espontânea vontade e convidado, por Elaine veria o orfanato, como ele era antes.
O orfanato virou uma espécie de portal, entre o inferno e a Terra, as criaturas de Satanás, podiam andar livremente por aqui, desse dia em diante. Mas, só poderiam afetar, os que entrassem convidados pelo mal em pessoa, a Elaine.
Assim os demônios poderiam caminhar por aqui, mas somente dois deles, podem andar livremente por este solo, amaldiçoado. Abigor e Moloch. Moloch era o Deus dos Amonitas. Deus ao qual, eles ofereciam suas crianças em sacrifício, a ele, queimando-as. Moloch, sempre ajudou Abigor, em tudo, e é seu braço direito aqui. Seu papel é transferir, as almas, amaldiçoadas, para fortalecer ainda mais Abigor.
Lembrei-me do sacrifício da menina, sendo consumida pelo fogo, no dia anterior.
-Então, como você está falando comigo, em vez de me atacar? Porque você, não é igual a eles? –Perguntei, desconfiado.
–Os que morrem no sacrifício, tornam-se, almas perversas, eles vagam por estes corredores. Mutilados, dilacerados ou queimados. Com a aparência de espírito, da mesma forma que seu corpo ficou depois de morto. Essas almas carregam uma fúria imensa, por que sua morte foi antecipada. Elas exalam um cheiro podre, tem necessidade de alimentar-se de carne. Da carne dos vivos que estão aqui. Esses espíritos podem alimentar-se até mesmo da matéria de outros espíritos.
Eu não morri assim, eu vago, como um espírito errante, minha imagem é essa, por que foi assim que eu fiquei quando me encontraram. Mas, eu não morri em sacrifício. E como todos que morrem a aqui, eu não posso sair. Estou preso aqui para sempre. Somente os que já tinham o mal em seu coração, ou tiveram contato com ele. Tornam-se, espíritos sujos. Como é o caso de Aurélia.
–A cozinheira? –Perguntei.
–Um de nossos irmãos, chamado Isaac. Chamou a atenção de Aurélia, pela sua beleza. Ela era sozinha, não tinha ninguém neste mundo. Sua carência, falou mais alto que sua razão. Aurélia começou um romance secreto, com Isaac, que na ocasião tinha dezesseis anos. Isaac, não gostava de Aurélia, mas, era ameaçado constantemente, por ela.
Quando ela descobriu o motivo de Isaac não gostar dela, Aurélia ficou louca, de ódio. Isaac era apaixonado por uma das meninas, que se chamava Isabela. Aurélia ficou enlouquecida, de ciúmes, e jurou que daria um fim a vida da garota. Para evitar que seu grande amor, fosse assassinada. Isaac matou Aurélia primeiro. O ódio acumulado, depois de tantos anos de abusos, fez para Isaac o assassinato ser, uma espécie de escape, para seu ódio. Ele a matou brutalmente, com uma faca de trinchar, e foi preso logo em seguida.
–Meu Deus do céu... E o meu amigo… O que aconteceu com ele?
–Pessoas, que entram aqui, convidadas, e que são tocadas, pelos Nefilins, que aqui, vagam. Tornam-se, seus servos. Eles não raciocinam como um humano normal, não estão vivos, nem mortos, e seu corpo material, fica intacto, porém o se interior, está totalmente modificado. Sua alma não mais existe e somente o mal preenche seu corpo.
Eles tornam-se, um paralelo, entre humanos e demônios, e seu único objetivo é matar. São animais, insanos e enganadores. Não há como sair vivo daqui. O tempo no orfanato passa rápido, um único dia no mundo exterior, equivale ha quinze dias aqui, se você não for pego, morre de fome, sem nem mesmo saber.
Logo me veio à mente a fome, e o cansaço que senti no dia anterior.
–Eu não posso acreditar nisso. –Levantei-me.
–Sim, Paulo! Aqui nada é o que parece. Você é enganado, tão fácilmente. –Um sorriso apareceu em seu rosto. –Todos os que morreram aqui se tornaram, almas sujas e criaturas cruéis. Com um único propósito... Matar. Não há como escapar disso.
–Inclusive, você. Estou certo? –Perguntei.
Ele começou a gargalhar, e ergueu sua cabeça para cima.
-Está aprendendo. –Mais gargalhadas.
–Porque você me contou tudo? Isso não tem lógica.
-Você queria saber, da verdade e Elaine me mandou, contá-la a você. Gostou de saber tudo sobre este lugar? Sobre o lugar onde você passará a eternidade? –Ele perguntou, gargalhando.
Pequenas pintas vermelhas começaram a aparecer em todas as paredes do quarto. Fiquei olhando para elas, assustado, sem saber o que estava acontecendo. Logo as pintas ficaram maiores e sangue, saiu delas. O sangue escorria pelas paredes, como um raio descendo do céu, tingindo-as de vermelho.
–Ele está aqui. –O menino disse.
–Ele quem? –Perguntei desesperado.
Um rugido agonizante, veio do andar de baixo, ecoando pelo corredor, até chegar aos meus ouvidos. O som parecia com o rugido de um monstro, ou de um animal. O menino gargalhou ainda mais alto. Não esperei pela resposta, da pergunta que fiz. Não importava o que estava lá em baixo, eu tinha que sair dali.
Abri a porta, rapidamente e sai. Olhei para o corredor a frente. As luzes estavam piscando. O sangue que escorria das paredes, havia chegado ao chão, formando pequenas poças, que contrastavam de forma sublime com a madeira marrom. 
A menina contorcida estava lá, bem no inicio do corredor, olhando para mim. Eu fiquei parado, esperando alguma reação dela, mas, ela só ficou ali parada, analisando-me. As luzes ainda piscavam, mas, ainda ficava um tempo acesas. Olhei para os lados, em busca de alguma coisa que pudesse usar como arma, quando um som de grito, viajou pelo corredor.
Olhei para frente. A menina estava vindo rápido ate mim, como um animal. O meu coração disparou, quando vi aquilo. Não havia para onde correr. Fiquei esperando ela chegar, para dar logo um fim nisso tudo. Quando ela parou repentinamente. A menina parecia assustada, com alguma coisa, ela virou seu corpo contorcido, olhou para trás, e correu, de volta por onde veio. A menina saiu do corredor, e desceu as escadas, muito rápido, deixando somente seu cheiro podre no ar.
Eu também corri pelo imenso corredor. Olhei para trás, quando um som chamou minha atenção. O menino havia saído do quarto, e estava andando pelo corredor. Olhei novamente para frente, e continuei correndo, até sair dele. As luzes piscavam. A iluminação era muito escassa, fora do corredor e não dava para ver direito. Eu não tinha muito tempo para pensar.
Corri até as escadas, e comecei a descê-las. Gritos infernais surgiam de todas as partes. Eram gritos agonizantes, misturados com gargalhadas histéricas. Alguns gritos vinham do andar de cima, mas, a maioria parecia vir do andar de baixo. Não liguei para isso, eu só queria sair dali. Continuei descendo até terminar as escadas. Quando cheguei no andar de baixo, me dirigi à sala do orfanato, e ao chegar nela, me deparei com uma cena dantesca.
A Freira Alice estava no andar de baixo, exatamente no meio da sala. Ela estava de joelhos no chão, com um pano branco cobrindo parte de sua cabeça queimada. Em uma das mãos, ela segurava um rosário e na outra uma lâmina de barbear.
Andei mais um pouco, para frente, devagar. Eu queria ver o que estava embaixo dela. Os gritos de pavor aumentaram, por todo o orfanato e o sangue, continuava descendo pelas paredes, em forma sinuosa. Aproximei-me devagar, até que meus olhos me mostraram o que estava abaixo da freira. Era uma criança.
Uma menina, de mais ou menos, oito anos, usava um vestidinho rosa, sapatos brancos, com meias que vinham até os joelhos, da mesma cor. Ela parecia estar viva, bem diferente das outras crianças que tinham por aqui. A Freira Alice estava em cima dela. Seus joelhos pressionavam os frágeis braços da menina contra o solo. Seus dedinhos já estavam roxos, devido à má circulação. E ela não podia gritar, pois sua boca havia sido costurada, com uma linha preta.
A freira levou a lâmina ao rosto da menina, que tentava libertar-se, porém, sem sucesso, e seus gritos anasalados, não eram altos o bastante, para chamar atenção. Alice aproximou a lâmina do olho da criança, e começou a fatiá-lo lentamente. Na tentativa de impedir aquilo, a menina fechava seus olhos, mas, sua pálpebra era cortada a cada tentativa. Alice sorria prazerosamente, enquanto fazia aquilo. A pequena menina debatia seus pés no chão, e tentava gritar devido á dor, mas, não saia som de sua boca.
A freira afundou a navalha, no olho da criança, fazendo um corte, lateral profundo. Em seguida, ela soltou a navalha no chão, e usando seus dedos, Alice, o puxou para fora, enfiando três deles, pelos cantos do olho da criança. Os gritos, agudos e anasalados da menina ficaram mais altos, expressando sua agonia. Alice pegou novamente a navalha, e dirigiu-a ao outro olho.
Senti alguma coisa se aproximar de mim, na escuridão. Aquela sensação, de ter alguém atrás de você, me deu um frio na espinha. Olhei para trás, devagar, e, na escuridão, estavam. Olhos dourados, incandescentes, que se destacavam, no escuro. Andei para trás, com o susto que tive. Meus passos fizeram barulho ao pressionar a madeira do chão, chamando à atenção da Freira Alice, que olhou para trás.
E aparentemente, espantada, levantou-se ao me ver. A criança continuou ao chão, tentando gritar, mas, seus gritos de horror, eram suprimidos, pela costura em sua boca. Fiquei olhando para o escuro, para os olhos dourados, que lá se destacavam. Minha visão, periférica, mostrava Alice, em pé, com a lâmina em sua mão, mas a imagem dela não era nítida o bastante. Abaixo dos olhos, amarelos, eu pude ver, um pé saindo da escuridão, sendo iluminado pela luz da lua, e em seguida, o resto do corpo, também saiu do escuro.
–Elaine? –Eu disse, quase desmaiando de medo.
-Olá! Paulo. Como anda a restauração. –Ela perguntou, ironicamente.
–O que? Você está louca? Eu vou te matar agora. –Afirmei furioso.
Elaine começou a rir
-Você vai me matar? Assim, como fazia quando era criança? Quando matava, animais indefesos na rua, para impressionar seus amigos? Aqui, não tem ninguém para impressionar. –Ela veio até mim, com uma velocidade sobre-humana. –Aqui, eu mando. –Elaine falou, com uma voz diferente, extremamente grave. –Alice, pegue-o. –Ela, ordenou, ao mesmo tempo que me soltava.
A Freira Alice veio até mim, com a lâmina, em sua mão, esquerda. Olhei para Elaine e ela sorriu para mim, em seguida, me empurrou, com uma força descomunal, contra a parede próxima a porta do orfanato. Meu corpo bateu com força, na parede, fazendo um som oco. Minha visão ficou turva, um som de zumbido tomou conta dos meus ouvidos.
Os sons dos gritos, vindos de todos os lugares do orfanato, se misturaram, em minha cabeça, e meu corpo doía, por inteiro. Passei a mão em meus olhos, para tentar recompor minha visão, olhei para frente e apenas vi duas sombras negras, sem definição. Tentei me levantar. Eu sabia que Alice estava próxima de mim. Mas, estava errado, ela já havia chegado.
Alice me pegou, pelos braços, empurrou-me no chão, segurou em meus cabelos e com um movimento rápido, fez um corte em minha testa. A dor do corte fez meu cérebro acordar, olhei para cima. A freira estava, levantando-se, e ficando de pé, acima de mim. Ergui meu tronco, e a empurrei, fazendo ela cair sentada no chão. Era a minha chance, terminei de me levantar, e corri até a porta, sendo observado por Elaine e Alice.
A porta estava trancada. Comecei a esmurrá-la, com força, a força dada pelo desespero. Alice se levantou. Elaine começou á andar até mim. Olhei para trás, ao escutar os sons dos passos. Encostei-me na porta, assustado, quando vi que, todas as crianças, do orfanato, estavam lá, na escuridão, olhando para mim.
Eu podia ver seus rostos, pálidos, contrastando com o escuro, seus olhos negros e vazios, me traziam uma tristeza que contaminava minha alma. Mais sons surgiram. As outras freiras desciam as escadas em fila, usando hábitos, sujos de sangue. O Padre Bernhard, surgiu, logo atrás, de Elaine. Todos eles estavam lá, me observando. Os gritos pararam, somente ouvia-se, a pequena menina agonizando, no chão.
Virei-me novamente, para fazer minha última tentativa, desesperada, de abrir a porta. Eu a puxei com todas as minhas forças. E cai ao chão, quando ela abriu. Fiquei espantado, pois a porta parecia já estar aberta, quando a puxei, mas, eu não tinha tempo para pensar em nada. Levantei-me, e corri, para fora do orfanato. Parti em disparada, até o portão. Ele estava fechado.
O sangue, nas paredes, impossibilitava que eu as escalasse, pois estavam muito escorregadias. Escutei novamente, um som atrás de mim. Olhei para trás, rápido. Todos os pelos do meu corpo se arrepiaram. As crianças do orfanato, todas as freiras, Elaine, Alice e o Padre Bernhard.
Estavam lá, atrás de mim, novamente, me olhando. Meu coração disparou e o suor frio, produzido pelo medo, desceu em meu rosto. Alguns deles começaram a sair de seus lugares, dando passagem a alguma coisa.
Escutei um murmurinho, vindo do lado de fora do orfanato, eu me virei novamente, para o portão. Um grupo de três jovens estavam passando na rua.
–Ei… Eiiiii… –Eu gritei. –Socorro, socorro.
–Eles não podem te escutar. –Uma voz, vindo das minhas costas disse.
Novamente, virei-me rápido. Eram o Bombeiro, e o Policial.
–… Vo… Vo… Vocês? –As palavras, quase não saiam.
Eu fiquei tão aliviado aos ver.
–Me ajudem, por favor. –Implorei.
Eles se olharam.
-Você não pode sair daqui, Paulo. –O policial afirmou, com uma voz estridente.
–O que? Mais como eu não posso sair?
A voz do menino dizendo: “Aqui nada é o que parece”. Reverberou, em minha mente.
–Quem são vocês?
Policial e Bombeiro, começaram a rir.
–Eu sou Abigor, um dos sete generais do inferno e senhor deste orfanato. –Disse o Policial.
–Eu sou Moloch, o antigo Deus dos Amonitas. –O Bombeiro disse sorrindo.
-Você é enganado tão facilmente, Paulo!
Meus ouvidos começaram a zumbir de medo. As mesmas pessoas, que foram os anjos salvadores no dia anterior, não eram nada do que imaginei. Eu havia caído em uma armadilha. Dirigi meu corpo ao portão e segurei na grade. No momento, em que minhas mãos tocaram o aço, minha pele ardeu, como, se estivesse em chamas, fazendo-me tirar rapidamente minhas mãos dali.
-Você já foi marcado. –O Bombeiro disse.
Olhei para a ferida, em meu braço, e lembrei-me, da mordida, que a menina contorcida, me deu.
-Você já é nosso…
O policial se aproximou, e colocou sua mão, em minha cabeça. No momento em que sua mão tocou minha cabeça, meu corpo, ficou anestesiado.
–A partir de hoje, você nos serve. Você, Paulo, usará sua habilidade, de escrever, para trazer novas almas até mim. Abigor. –Sentia-se o orgulho, dele ao pronunciar, esse nome.
Ele me soltou, e eu cai de joelhos, no chão. Meu corpo parecia pesar uma tonelada. Tentei me levantar, mas, alguma coisa tomou conta de mim. Era como se algo, estivesse subindo pelos meus pés, até chegar na minha cabeça. Meus olhos ficaram negros, e nossa como eles ardiam. Minha vontade de fugir era irrelevante. Eu não tinha mais querer. Eu tinha que obedecer. Essa era a única coisa que se passava em minha cabeça agora.
–Escreva sobre o que viu aqui. –Ele ordenou – A partir de hoje, você me trará mais almas, Paulo. Eu não lhe trouxe aqui, sem motivo. Você escreverá, sobre o que viu aqui, sobre mim, sobre minhas crianças, sobre minha casa e sobre tudo, que seus olhos lhe mostraram. Todos os que lerem sua estória, estarão com as almas condenadas ao inferno, todos que souberem do orfanato se tornarão, minhas crianças e no momento de suas mortes, eu Abigor, estarei lá.
 Epílogo
Eu fiz o que me foi ordenado, eu escrevi minha estória, marcada, com sangue de inocentes. Desde o dia, em que terminei de escrevê-la, todos os que a leram, tiveram suas almas condenas, sem nem ao menos saber, inclusive você, que está lendo agora. Não se assuste, caso isso lhe aconteça, com a sua pessoa, não se assuste, caso tenha o mesmo fim que eu. Não existe mais salvação. Ninguém poderá ajudá-los, agora.
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