domingo, 12 de maio de 2013

DEPOIS DA MEIA-NOITE



Rodrigues deixou o parceiro em casa e seguiu com a viatura para sua residência. Já passava da meia noite, e como em todas as sextas-feiras, após o estressante final de turno, ele e o parceiro de patrulha, Olavo, passavam no Bar do Carlão para tomar uma gelada, e aí sim, dar por encerrada a noite.
O caminho para sua casa passava por um trajeto ainda sem asfalto, e cercado por uma vegetação alta e mal cuidada.
O bairro era novo, e muitos daqueles que sonhavam em ter o seu canto próprio arriscaram em comprar um terreno naquela parte da cidade, acreditando na promessa do prefeito de que em breve haveria todo tipo de melhoria na região.
Com muito esforço, Rodrigues conseguiu erguer uma casa simples, porém bem feita, mas ainda assim, quando olhava ao redor, o que via era feio, na verdade assustador. A pouca iluminação das vielas estreitas, e o som dos insetos, e pequenos animais no meio das moitas e arbustos, deixavam o lugar com aspecto fantasmagórico quando a luz do sol ia embora.
A mulher e a filha de seis anos não ousavam sequer olhar pela janela, e, por esse motivo, Rodrigues tinha pressa em chegar em casa.
Naquela noite, ele estava milagrosamente calmo. A semana havia sido tranqüila, sem nenhuma ocorrência importante. O policial só pensava em chegar em casa, tomar um banho quente e descansar.
Os faróis altos da viatura iam iluminando o caminho, e de tempos em tempos, alguns vultos pareciam surgir do nada, e com a mesma rapidez sumiam do alcance de visão do policial.
Rodrigues nunca fora um homem supersticioso, menos ainda medroso. Não acreditava em nada sobrenatural. Tinha medo era de levar um tiro de algum menor drogado no final da noite, e deixar a mulher a filha perdidas no mundo.
De repente, a luz dos faróis falhou. O breu tomou conta da estradinha de terra. Rodrigues deu um tapa no painel e a luz voltou. O homem deu uma pigarreada e falou:
- Porcaria de lata velha.
Quando voltou os olhos para o pára-brisa sujo do carro, o susto.
- Mas que porra é essa? – gritou.
Meteu o pé no freio. O carro derrapou um pouco, mas parou em seguida. À sua frente uma mulher andava em sua direção de forma desengonçada. Usava um vestido branco que mais parecia uma camisola comprida. A cabeça pendia para um lado, e no seu pescoço desciam duas finas linhas vermelhas.
Rodrigues desligou o carro e saiu para acudir a moça. A garota devia ter uns vinte três anos. Os cabelos loiros e lisos chegavam quase à cintura. A pele incrivelmente branca. As linhas de sangue deixavam uma marca estranha no vestido, que lembrava o desenho de um labirinto circular.
- O que aconteceu senhora? – perguntou Rodrigues
A garota nem mesmo ergueu os olhos.
- Qual seu nome? Como se machucou?
Silêncio novamente.
- Vamos, entre no carro, eu a levo ao pronto socorro. – E, dizendo isso, abriu a porta traseira do carro e ajudou a mulher a deitar-se no banco.
Ligou o carro, fez a volta e saiu a toda velocidade. Em todo percurso a garota não fez sequer um ruído.
Como já era madrugada, o posto médico já estava bem vazio.
Entrou com o carro na garagem da ambulância.
- Ei moça, chegamos. A senhora consegue andar?
Novamente sem resposta. Desta vez, sequer um movimento.
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