terça-feira, 14 de maio de 2013

A Pomba-Gira de Exú





Manolo era uma pessoa completamente cética. Para ele, todas as religiões não passavam de "crendice", e Manolo não fazia a menor questão de esconder seu desprezo pelas pessoas que acreditavam em coisas esotéricas e espirituais.




Como todo bom italiano, Manolo era falante, fogoso e fanfarrão. Defendia fervorosamente que ele era o detentor da verdade absoluta e que qualquer opinião que não fosse a dele, deveria ser ignorada imediatamente (qualquer semelhança com o autor é mera coincidência). 
Certa noite, no "Bar do Seu Zequinha", Manolo e seus amigos entraram numa discussão séria.
Seria assunto para a noite inteira se Marilone, um dos amigos de Manolo, para dar fim àquela "briga", não desafiasse Manolo em uma aposta:
_Manolo!! Se o TUPI não subir para a segunda divisão, você vai até o Terreiro do Pai Tumé comigo assistir à uma sessão de Umbanda!! Disse Marilone peremptoriamente.
_Rá!! Cale-se patife!! É evidente que o TUPI subirá!! Seu cretino!! Você comerá tudo o que disse com as moelas de frango asquerosas que são servidas nesse Bar infecto!! Eu aceito o desafio!!
As outras pessoas que estavam na mesa, olharam assustadas para o italiano, que já estava roxo de cólera. 
Dito e feito, o TUPI perdeu dois jogos em casa e um fora, ficando em último lugar no "quadrangular decisivo". Manolo perdera a aposta.
_Sim! Eu sou um homem de palavra.  Eu irei com você. Falou o aborrecido Manolo.
_Mas você tem que me prometer que não ficará rindo ou atrapalhar a sessão. O Pai Tumé não gosta de falta de respeito dentro do seu Templo. Lembre-se que o  termo "Terreiro" é errado, pois Terreiro é para a Macumba, mas já virou costume o povo falar... Disse Marilone.
_Ah! Fala sério! Eu não prometo nada! Eu estou pouco me lixando se o tal macumbeiro gosta ou não de brincadeira! Pra mim esse negócio de pajelança é tudo uma grande palhaçada!!
_Pajelança não!!! Umbanda! Gritou Marilone.
_Rá!! É tudo a mesma coisa!! Macumba, Pajelança, Voodu, Candomblé, Umbanda, Quimbanda, Quitanda...
Os dois foram discutindo até o tal "Terreiro de Pai Tumé". 
Como o leitor deve saber, existe um sincretismo religioso muito grande entre as religiões afro-brasileiras. Práticas da Uganda, Macumba, Candomblé e Quimbanda, se misturam com o catolicismo e Espiritismo aparentemente sem nenhum critério, variando apenas de região para região. Portanto, não existe um dogma fixo para a realização das giras, podendo apresentar grandes diferenças de um Terreiro para outro.
Ao chegarem, os dois notaram uma aglomeração de pessoas próximas ao Terreiro.
gira estava para começar.
_As giras ou sessões de Umbanda são realizadas uma vez por semana, cultua-se espíritos de uma determinadafalange havendo portanto quatro sessões mensais. Falou Marilone ao incrédulo amigo.
_Como é que é? Perguntou Manolo com um interesse que surpreendeu até ele mesmo.
_Bem, é melhor você ver com os próprios olhos... 
Nesse momento, a cerimônia teve o seu início. A sessão começou com a defumação do Templo; médiuns se colocaram defronte ao altar principal. De um lado os homens, do outro as mulheres. Abaixo das imagens, entre as quais a de Cristo, a da Virgem Maria e a de São Jorge (isso surpreendeu Manolo), se postaram ao babalorixá(Pai-de-Santo): o "Pai Tumé", e a ialorixá (Mãe-de-Santo): Dona Dodora.
Efetuado o sermão introdutório, começou a cerimônia denominada bater cabeças. Sempre cantando pontos(cantigas) em louvor aos orixás, os médiuns "tacavam" a cabeça nos pés do Pai Tumé e da Mãe-de-Santo; estes, por seu turno, "tacavam" com a cabeça nos pés das imagens. Manolo quase teve uma acesso de riso, mas foi reprimido por Marilone.
_Fica quieto! Senão pode baixar um orixá em você!! Falou Marilone.
_Rá! Duvido! Disse Manolo que estava achando aquilo uma grande besteira. 
A seguir, ao som dos atabaques, os médiuns começaram a montar nos Cavalos-de-Santo (os fiéis que receberiam o orixás ficavam de quatro). Manolo não concordou com que "montassem" nele, pois ele era apenas um visitante e não queria bolar para o santo. Os médiuns traziam vestes muito brancas e guias ou colares característicos de seus orixás: em caso de baixar um caboclo (espírito de índio), o médium trará um cocar de penas e um charuto nos lábios; se descer um preto velho (espírito de escravo), o fiel usará chapéu de palha, cachimbo e bengala; se a entidade for Exú ou sua forma feminina, Pomba-Gira, teremos cigarro ou charuto, capa preta e vermelha e uma garrafa de aguardente.
_O que acontece quando uma dessas entidades baixam? Manolo perguntou ao amigo.
_Psiu! Fala baixo! Começam, a seguir, as consultas às entidades. Versam sobre saúde, dinheiro, trabalho, amor, essas coisas. A informação desejada é sempre complementada com a recomendação do uso de um banho de ervas, e da colocação de copos com água em vários lugares da casa do consulente, com o fito de ser afastado 

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