segunda-feira, 13 de maio de 2013

CARONA MALDITA



A única luz que podiam contar, era a inconstante luz da lua, que de tempos em tempos se escondia atrás das nuvens. Os dois jovens amigos andavam pela estrada de chão, estavam tentando atravessar o país pedindo carona, e estavam conseguindo.

 A última carona foi até Diamantina, agora seguiam a pé por uma estrada deserta que os levaria até Belo Horizonte, mas os jovens não conseguiram mais nenhuma carona desde que chegaram ao interior de Minas.

_ Esses caipiras da Roça são um bando de pão com frango! Gritou o mais jovem, filho de um Industrial Paulista.
_ Ôrra meu! Durante o dia, vários caminhões de leite, caminhonetes, carroças e até carros de boi passaram por nós, e ninguém parou! Agora a noite vai ser mais foda ainda! Constatou o amigo, também filho de um Industrial Paulista.
_ Povo do mato é muito "laranjão"! Só ficam "Janelando"! Resmungou o mancebo.
 
E eles continuaram a andar pela estrada escura e fedida de esterco de vaca. Tudo parecia normal, mas algo estranho, muito estranho estava para acontecer.

_ Você notou como a Lua está grande hoje? Perguntou o varão mais novo ao mais velho.
_ É lua cheia! Estamos no fim da quaresma! Semana Santa! Você viu as procissões em Diamantina?
_ Vi....esse povo da roça é muito "jagodes"! Reza o dia inteiro... sem falar nas superstições!
_Foda-se pra lá!
Mas de repente, uma luz que não era da lua veio de trás deles!
_ Está vindo um carro pela estrada! Empolgou-se o fidalgo.
_ Vamos pedir carona? Espero que pare! Estou morrendo de sono! Sugeriu o mais maduro.
_ É uma caminhonete velha! Tomara que tenha espaço atrás! Observou o rapaz mais jovem .
_Tomara que pare, senão estaremos fodidos! Cogitou o também rapaz, porém mais velho.
E os dois adolescentes estenderam seus dedos polegares e estamparam um sorriso em suas faces. Essa poderia ser a última chance! A caminhonete passava por eles agora.
_Ih meu! Parou! Vamos!!! Alegrou-se o jovem paulista.
Era uma Rural Azul 69 muito velha, na frente iam duas pessoas, um velho senhor e um garoto que parecia ser seu neto. O velho fez sinal para os dois pularem da parte traseira (que estava sem tampa) da velha Rural. Os jovens não pestanejaram, pularam na carroceria cheia de bosta de galinha. E o velho deu partida!
_ Pronde ocês tão indo uai? Perguntou o ancião pela janelinha traseira aos guris.
_ Pra BH ! Responderam em coro.
_ Êê! Eu num vô té lá não, mas deixo ocês em Paraopeba! De lá, cês vão pá Belzonte! Avisou o octogenário.

 
Durante toda viagem, o velho conversava sem parar com os infantes caronas, mas o garotinho permanecera mudo e imóvel o tempo todo, parecia que nem piscava! Uma atitude insólita para um menino que nem tinha os pêlos pubianos. A noite estava muito escura, pois a lua, sonolenta, se encontrava em um leito de nuvens. Ás vezes os viajantes passavam por um ou outro botequim de beira de estrada, perto de alguma fazenda.

_ Ô meu! Está com fome? Estou afim de dois pastel e um Chopes! Perguntou o rapaz mais velho ao amigo.
_ Não, estou sem fome! Engoli um besouro à uns 5 minutos atrás! Respondeu contrariado o rapaz.
_ Você reparou como tem placas nos botequins e fazendas dizendo: "Temos Parapapum", "Parapapum Dia e Noite"...?
_ É! Deve ter gente que sai até a noite para comer ou beber ou trepar nesse tal de Parapapum....
A viagem estava tranqüila, com os viajantes conversando alegremente, com exceção do menino.
_Ô tio! Esse menino aí! É seu neto? Por quê ele fica quieto o tempo todo? Perguntou um dos caronas.
_ Não! Ele é o último rebento da minha muié! É o meu sétimo filho menino homem! Ele é quieto assim mesmo! Deve cê duenti!
_ Sétimo filho??? Ôrra!!! o senhor mete pra diabo! Disse o mais novo fidalgo.
_ Eu também sô o sétimo filho da minha mãe, muié do meu pai! O povo diz que nóisvirar lobisomem! Esse povo daqui é muito besta ! Isso é coisa do tinhoso, e eu minha muié somo muito religioso! Disse o ancião.
_Tem muitas lendas desse tipo aqui em Minas? Perguntou o donzel.
_Vije! E como tem sô! Inda mais agora, qui tamo no fim da quaresma, semana santa, hoje é quinta Feira da Paixão, lua cheia. Eu falo procês, se existe esse coisa ruim do lobisomem, é hoje que ele aparece! Falou o velho homem.
A lua cheia estava no zênite, e acabara de sair por detrás da lívidas nuvens da noite mineira. Nesse momento o garoto começou a se mexer, parecia que estava com soluço.

_ Que foi fio? Tá cum vontade de mijá? Perguntou o ancião.
O menino começava a balançar a cabeça e a babar! Estava tentando tirar as roupas enquanto gemia. O menino fechou os olhos e colocou as mãos na boca!
_ Para o carro!! Acho que o menino vai vomitar!! Gritou o natural do tietê.
_ Calma fio!! A primeira veiz é assim mesmo! Acalentou o velho.
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